terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Mostra com obras raras traz pela primeira vez pioneiro do cinema baiano para Uberlândia/MG


Pela primeira vez, o público de Uberlândia/MG poderá conferir a genialidade artesã de Roberto Pires, diretor de clássicos como os premiados "Tocaia no Asfalto" (1962) e "Césio 137 - O Pesadelo de Goiânia" (1990). O cineasta responsável pelo primeiro longa metragem baiano, "Redenção" (1959), ganhará a mostra especial no. O público também poderá conferir "Máscara da Traição" (1969), com Tarcísio Meira, Glória Menezes e Cláudio Marzo.

A Mostra exibirá "Redenção" restaurado digitalmente recentemente. O filme conseguiu dar impulso aos anseios de jovens da Bahia apaixonados pelo cinema, entre eles, Glauber Rocha. A partir de então, a Bahia passa por um período de grande produção cinematográfica denominado Ciclo Bahiano de Cinema. Durante o Ciclo, Salvador chegou a ser considerada a Meca do Cinema Mundial. Com Rex Schindler e Glauber Rocha incorporados ao grupo da Iglu Filmes, deram início a produção de três longas metragens importantes para o Ciclo Bahiano de Cinema. A Grande Feira e Tocaia no Asfalto, dirigidos por Roberto Pires, além de Barravento que, por indicação de Pires, acabou sendo dirigido por Glauber Rocha.

"Tocaia no Asfalto", considerado pelo crítico de cinema André Setaro como um "thriller genuinamente baiano", aborda o relacionamento dos políticos com a criminalidade e as idiossincrasias de personalidade de um pistoleiro de aluguel". Para ele, no filme "destaca-se sobremaneira a artesania de Pires, o domínio pelo qual articula os elementos da linguagem cinematográfica em função da explicitação temática. Seu trabalho, nesse particular, é de ourivesaria e, aqui, em Tocaia no asfalto, tem-se um exemplo onde a narrativa suplanta a fábula, ainda que os dois planos sempre devam ser observados em processo de simbiose". O filme ganhou o Prêmio Saci em 1963.

Máscara da Traição, com a participação de Tarcísio Meira, Glória Menezes e Cláudio Marzo no elenco, narra um roubo no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. O filme chegou a ser censurado pela ditadura militar pela perfeita engenhosidade de seu trama, que, segundo os censores, ensinariam a fazer um assalto. Depois das explicações do diretor Roberto Pires, de como as cenas teriam sido montadas (em especial a cena em que o ator Marzo se passa pelo personagem de Tarcísio Meira), o filme foi liberado.

Ainda no Rio, Roberto começa a se interessar pela questão da energia nuclear. Desenvolve pesquisas e projetos e busca apoio de César Lattes, cientista brasileiro de renome mundial. Enquanto o governo militar estava assinando um acordo com a Alemanha para a construção das usinas nucleares em Angra dos Reis, Roberto Pires estava tentando fazer um documentário para denunciar o perigo da energia nuclear.

Em busca da realização de Inverno Nuclear, um projeto com a temática da energia atômica, Roberto passa a morar em Brasília, e participa do movimento cinematográfico no Distrito Federal. Um acidente radioativo grave com césio em Goiânia deixa milhares de vítimas, algumas fatais, e chama a atenção do diretor. Roberto desenvolveu pesquisas, entrevistou os sobreviventes do acidente, e dirigiu "Césio 137 - O pesadelo de Goiânia", seu último longa metragem. O filme levou 6 prêmios no Festival de Cinema de Brasília de 1990. Até hoje, o filme é referência contra o absurdo do mal uso da energia atômica.

Instituto Memória Roberto Pires

A mostra faz parte do Instituto Memória Roberto Pires, responsável pela restauração, preservação e difusão da obra do cineasta. O Insituto surgiu do amadurecimento de uma série de ações que vêm sendo desenvolvidas após o falecimento do diretor. O projeto Memória Roberto Pires começou, em 2005, quando Petrus Pires encontrou uma cópia de "Redenção", filme que era dado como perdido e encontrado no Instituto Lula Cardoso Ayres, em Pernambuco.

Com o apoio da Secretaria de Cultura da Bahia, em 2010, Redenção foi relançado após restauração digital durante o VI Panorama Internacional de Cinema da Bahia. O governo da Bahia já sinalizou para 2010/2011 o patrocínio para a restauração digital de "A Grande Feira". O próximo desafio do projeto Memória Roberto Pires é localizar uma cópia do filme "Crime de Sacopã" (1963), dirigido pelo cineasta no Rio de Janeiro, e atualmente dado como perdido.

Petrus Pires, coordenador do projeto, ressalta a importância de preservar a memória audiovisual do pai. "Roberto foi um cineasta que sempre trabalhou de forma independente e conseguiu realizar obras que se mantêm atuais. A preservação e difusão de sua obra são importantes para o cinema brasileiro por suas soluções inovadoras que superaram as dificudaldes que encontrou para realizar seus filmes".

Roberto Pires


Roberto de Castro Pires nasceu em Salvador, no dia 29 de setembro de 1934. Com 12 anos, começou a frequentar constantemente os cinemas Pax, Santo Antonio, Jandaia e Aliança, em Salvador. Nestas salas, quase sempre, eram exibidos filmes policiais. Gênero pelo qual Roberto desenvolveu um gosto especial e que lhe rendeu comparações a Hitchcock. Um dia, ao ver cenas da Bahia em um filme no Cine Excelsior, decidiu fazer um filme de longa metragem na Bahia. Para tanto, fundou, junto com Oscar Santana e Hélio Moreno Lima, a Iglufilmes para realizar o projeto.

Para realizar o primeiro longa metragem da Bahia, Roberto decidiu utilizar a mais avançada tecnologia da época, o som magnético e a lente cinemascope. Com paciência e maestria de artesão e contando com a ajuda de seu amigo Oscar, Roberto desenvolveu sua própria lente, a Igluscope, e seu sistema próprio de som magnético. Feito que chamou a atenção de representantes da Motion Pictures, entidade que agrega até hoje as maiores produtoras de Hollywood. Impressionados, voltaram a Los Angeles e, pouco tempo depois, Hollywood patenteava todas as possibilidades de lentes anamórficas e trocava o som magnético pelo ótico.

Extremamente criativo, Roberto construiu outros equipamentos utilizados em seus filmes como gruas, carrinhos, cabeças de câmara, filtros e dezenas de aparatos diversos. Fora do cinema, o cineasta se divertiria fazendo telescópios e outras invenções para os seus dez filhos e muitos netos. Autodidata, criativo e artesão, além disto, uma alma generosa, aberta e solidária, ele se dispôs a transmitir, ou melhor, dar de presente seu conhecimento e suas habilidades para outros realizadores que, no início da década de 60, começavam a fazer cinema na Bahia e no Rio de Janeiro.

Bastante versátil e profissional competente, Roberto Pires participou de trabalhos de outros cineastas, executando diferentes funções. Realizou a montagem de filmes como O Caipora (1964), de Oscar Santana; Choque de Sentimentos (1965), de Máximo Alviani; O Homem que Comprou o Mundo (1967), de Eduardo Coutinho; Di Cavalcanti (década de 70), documentário de Glauber Rocha; e A TV que Virou Estrela de Cinema (1992), de Yanko del Pino. Foi produtor de Barravento (1960), de Glauber Rocha; produtor associado de Como Vai, Vai Bem? (1968), obra em oito episódios, dirigidos pelo Grupo Câmara (Alberto e Walkyria Salvá e outros); e diretor de produção de O Cego que Gritava Luz (1995), de João Baptista de Andrade. Em parceria com Pedro Moraes, Pires foi diretor de fotografia de A Idade da Terra (1979), de Glauber Rocha. E, ainda, responsável pela supervisão técnica e corte de O Mágico e o Delegado (1979), de Fernando Coni Campos.

Serviço

Mostra Especial Roberto Pires


Local: Oficina Cultural de Uberlândia
Praça Clarimundo Carneiro, 204 – Bairro Fundinho - Centro Histórico
Fone: 3231-8608 / 3214-9889

Programação:

Césio 137 - O Pesadelo de Goiânia" (1990)

Dia: 14/12/2011
Ás 20:00 horas
Ficção. Drama.
Duração: 115 minutos
Sinopse:

O Filme passa-se em Goiânia. Conta a história de Vavá e seu amigo (narradores), que juntos descobrem uma peça de chumbo nas ruínas de um antigo hospital. A peça encontrada trata-se de um material radioativo (o Césio 137). Ela é vendida a Devair,o dono de um ferro velho, um amigo de Vavá. Devair e seus ajudantes quebram a peça e liberam a capsula de Césio 137. Devair, que estava maravilhado pela cor azul e brilhante que o Césio 137 emitia, resolveu mostra-lo para seus amigos, para seu irmão Ivo.

D, R, DA, M: Roberto Pires. F: Walter Carvalho. MU: Otávio Garcia. E: Nelson
Xavier, Joana Fomm, Paulo Gorgulho, Stepan Nercessian, Paulo Betti, Denise
Milfont, Marcélia Cartaxo, Thelma Reston, Malu Moraes, Venerando Ribeiro,
Carmen Morentzsohn, Luiz Linhares. CP: Master Cinevídeo Produções Ltda.. CI: 14
anos. Brasília 1990: prêmio especial do júri + roteiro + atriz (Fomm) + atriz
coadjuvante (Milfont) + fotografia + som. Natal 1990: melhor filme (júri + crítica) +
direção (crítica) + roteiro + atriz coadjuvante (Milfont).

"Tocaia no Asfalto" (1962)

Ficção. Drama.
Dia: 15/12/2011
Ás 20:00 horas
Duração: 101 minutos
Sinopse:

A vida e a psicologia dos assassinos de aluguel no Nordeste. A trama do filme se desenrola em Salvador e gira em torno de um político jovem e idealista que os adversários se esforçam por eliminar. Agildo Ribeiro, deixando de lado o humor, adota postura como o matador, vítima da consciência e do emblemático círculo fatal que o envolve, ao lado de Arassary de Oliveira, a namorada

D, R, M: Roberto Pires, sobre argumento de Rex Schindler. F: Hélio Silva. DA: José
Teixeira de Araújo. MU: Remo Usai. E: Agildo Ribeiro, Geraldo D’El Rey, Ângela
Bonati, David Singer, Adriano Lisboa, Milton Gaúcho, Maria Anita, Roberto
Ferreira, Jurema Pena, Antonio Sampaio [Pitanga], Maria Lígia, Clélia Matos,
Mecenas Marcos, Arassary de Oliveira. CP: Rex Schindler, David Singer, Iglu
Filmes. CI: 14 anos. O Saci 1963: direção + argumento.

REDENÇÃO

Dia: 17/12/2011
Ás 18:30 horas
Brasil, 1959, 35 mm em ‘igloscope’, pb, 62 min
versão restaurada e remasterizada a partir de uma cópia 16 mm
Ficção. Policial

Um psicopata estuprador é contido por dois jovens fazendeiros, um dos quais
está envolvido com a polícia e que, ao proteger uma jovem ameaçada, encontra a
redenção.

D, R: Roberto Pires. F: Hélio Silva. DA: Orlando Rego. MU: Alexandre Gnatalli. M:
Mario Del Rio. E: Geraldo D’Del Rey, Braga Neto, Maria Caldas, Fred Júnior, Milton
Gaúcho, Oscar Santana, Leonor Barros, Roberto Pires; Jece Valadão, Daniel Filho
(dublagem). CP: Iglu Filmes. CI: 14 anos.

MÁSCARA DA TRAIÇÃO

Ás 20:00 horas
Brasil, 1969, 35 mm, cor, 107 min
Ficção. Policial.

Um casal de criminosos arma um plano para roubar a renda da bilheteria de uma
partida de futebol no Estádio do Maracanã. O principal suspeito é Carlos, chefe do
Departamento de Finanças.

D: Roberto Pires. R: Roberto Pires, Leopoldo Serran (diálogos). F: Afonso Beatto.
DA: Regis Monteiro. MU: Francis Hime. M: Uly Mantel. E: Tarcísio Meira, Glória
Menezes, Oswaldo Loureiro, Mario Brasini, Flávio Migliaccio, Milton Gonçalves,
Roberto Ferreira, Joel Vaz, Cláudio Marzo. CP: Mapa Filmes. CI: 14 anos.

Dias: 14,15 e 17 de dezembro de 2011
Entrada gratuita
Realização: Divaldo Caldas
Informações sobre a Mostra:
Tel.: (34) 9215-3736

Fonte: Divaldo Caldas
Imagens: ibahia.com
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vmfilmesbetomagno.blogspot.com
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