terça-feira, 23 de agosto de 2011

Um breve ensaio sobre cultura e ditadura no Brasil


Existe um clichê que a maioria dos historiadores odeia: “a história é importante para conhecer o passado e não cometer os mesmos erros no futuro”. Nunca perguntei o motivo dos profissionais dessa área não gostarem da afirmação. Talvez porque sendo humanos, estamos fadados a cometer os mesmos erros em circunstância diferentes. Mas é bem verdade que a história ajuda a humanidade a projetar o futuro.

O boom da mídia nos últimos 100 anos teve papel fundamental em disseminar a informação histórica e levar o conhecimento onde livros antes haviam falhado. A indústria do cinema nacional e internacional mostrou por inúmeras vezes os terrores das guerras provocados pela insanidade de poucos e avalizados pela ignorância de muitos.

Assunto controverso de nossa história recente e que temos por obrigação não deixar cair no limbo do esquecimento, o golpe de 64 trouxe quase duas décadas de censura, perseguição, exílios, prisões, torturas e mau agouro. Nem o “Milagre Econômico” da década de 70 foi positivo, se mostrando responsável por uma hiperinflação que assolou os anos 80 e 90 e fez sofrer a população brasileira, assim como sofreu a classe político-intelectual perseguida pela ditadura.

Homens e mulheres de verdade, tornaram-se verdadeiros símbolos da liberdade, principalmente depois que seus destinos foram escolhidos não pelo universo, mas pela violência do pau de arara em porões escuros e úmidos da polícia política. Muitas histórias viraram livros e muitos foram retratados em filmes. Zuzu Angel, O que é isso companheiro?, O ano em que meus pais saíram de férias, Feliz Ano Velho, Batismo de Sangue e muitos outros deixaram suas marcas gravadas na cultura nacional e ajudaram na construção da memória histórica brasileira. Entretanto, outras forças disseminam o outro lado da história.

A anistia serviu para trazer os brasileiros que viviam no estrangeiro de volta para casa e foi o marco da abertura política no Brasil. Mas serviu também para jogar um pano escuro na realidade e deixar livres torturadores, assassinos, além de esconder o paradeiro de muitas pessoas que “desapareceram” durante o regime militar. É lógico que a anistia não seria somente para os presos e exilados políticos de esquerda. Ela também serviu para mascarar a verdade.

Historicamente, os militares criaram a justificativa de que, no momento do golpe de 1964, o povo brasileiro necessitava de um governo mais rigoroso. E mais, o povo brasileiro queria e apoiava o regime. Atualmente, as Forças Armadas são controladas por um civil. Mas, essa versão até hoje é difundida nos quartéis das corporações. Essa mesma afirmação foi ouvida por um grupo de acadêmicos de jornalismo em um estágio no Exército Brasileiro. Estágio muito interessante, mas que tem, no fundo, um foro doutrinário. Por isso, são escolhidos apenas estudantes.


Devemos conhecer todas as versões, mas devemos nos deixar influenciar por nenhuma delas. Eu tenho a minha opinião, você tem a sua, o João e a Maria têm a deles. Eu me expresso nesse espaço democrático, que é a internet. E, se hoje posso fazer isso, é graças a figuras como Rubens Paiva, Frei Beto, Zuzu Angel, Vladimir Herzog, Carlos Marighella, Estanislau Ignácio Correia e tantos outros que deram suas vidas pela democracia e pela liberdade. Sem contar os inúmeros presos e exilados que, só não tiveram a mesma sorte, graças à luta incessante da esquerda brasileira.

Os tempos são outros: esquerda, direita e centro quase que se misturam. Mas a cultura, os livros, o cinema e a música estão acima disso e têm papel fundamental na memória brasileira. Memória que deve ser lembrada e relembrada, contada e recontada. E seus personagens devem ser tratados como herois em tempos de guerra.

Imagens: browg.blogspot.com
culturabrasil.pro.br

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