terça-feira, 23 de novembro de 2010

CD “Os Caipiras” surpreende pela qualidade musical


O CD “Os Caipiras”, produzido pela BGK Fonográfica, foi lançado em 2001 e distribuído pela Som Livre. A coletânea traz 14 faixas de música sertaneja no mais puro estilo “raiz”, interpretadas pelas duplas Denis e Fabiano, Divino e Donizete, Rodrigo e Rauny, Robson e Alessandro, Marcos e Marcelo e, ainda, pela cantora Ely Carvalho.

A produção investiu em cantores de pouca expressão nacional, mas com qualidade e boa sonoridade. As músicas são bem fieis às versões originais, sem rebuscar muito, nem tentar inventar arranjos complicados. Isso se deve ao trabalho de manter a identidade musical das canções que fizeram sucesso com cantores consagrados do “sertanejo raiz”.

Algumas canções se destacam na coletânea. Um dos pontos altos é o clássico “Boiadeiro Errante”, de Teddy Vieira, com a interpretação de Rodrigo e Rauny. A música já passou pela voz de Sérgio Reis e outros grandes cantores deste estilo. “Cabocla Tereza” de Raul Torres/João Pacífica é cantada por Robson e Alessandro, com direito à introdução famosa que dá início à história.

Marcos e Marcelo assinam “Saudade da Minha Terra”, composição de Belmonte e Goiá, e uma das mais conhecidas do mundo sertanejo. O tradicional solo de acordeom é outro momento imperdível, assim como “Caboclo na Cidade”, autoria de Dino Franco e Nhô Chico, cantada por Denis e Fabiano. “Caboclo” já esteve na vozes de Chitãozinho e Xororó. A batida da viola, que tornou a música em todos os cantos do país, continua sendo o ponto forte desta versão.

A faixa de número 11 é “Rei do Gado”, imortalizada por Tião Carreiro e Pardinho, nas vozes de Divinho e Donizete. O clássico dos clássicos de Teddy Vieira é disputado por grandes nomes do sertanejo como Sérgio Reis. Virou “cult” e deu origem a inúmeras obras musicais, televisivas e comerciais. Divino e Donizete tratam a música com muita dignidade e não comprometem a sua história de sucesso.

A coletânea não perde em conteúdo para nenhum outro disco. Uma ou outra música poderia ter sido inserida no repertório, mas com tantos clássicos no estilo sertanejo a escolha é difícil. O repertório foi feito pelos compositores Maria Mirom, Donizete Santos e pelo produtor Paulo Gomes, presidente da BGK Fonográfica.

Outro ponto que pode ser discutido é a interpretação das canções. Apesar de nenhum dos intérpretes comprometer a qualidade do disco, não é o mesmo que ouvir cantores já consagrados. Entretanto, é incorreto afirmar que o produto final ficou ruim. Muito pelo contrário: os cantores fizeram “bonito”, e deveriam ter mais espaço no circuito comercial.

Prática comum que visa baratear o preço final, no encarte do disco não há letras das músicas, o que pode ser sentido por alguns. No entanto, as fotos dos cantores que gravaram o projeto não deveriam ficar de fora. Uma homenagem aos grandes cantores do “sertanejo raiz” foi feita no miolo. No entanto, a nova geração que emprestou sua voz para o CD não foi corretamente mostrada.

A aposta de um disco com intérpretes em início de carreira cantando músicas consagradas, arranjos fieis aos originais, encarte simples e boa distribuição não tem como dar errado. O investimento é muito pequeno e o retorno, quase garantido.

Mesmo assim, não existe fórmula para o sucesso. Nenhum destes cantores firmou uma carreira estrelada. O projeto vai em frente, os operários do projeto ficam. É o preço que se paga em um mercado extremamente competitivo, com muita gente de talento e pouco espaço na grande mídia.

Como o disco já tem quase uma década de seu lançamento, não é muito fácil de ser achado. Em diversas lojas virtuais, incluindo a própria Som Livre, a coletânea não foi encontrada. Porém uma grata surpresa: sem menção de nenhum mercham ou jabá, o disco pode ser comprado por apenas R$ 7,99 pelo site Painel Digital.

Para quem gosta de boa música, para os saudosistas, colecionadores, curiosos e para os fãs do “sertanejo raiz”, é aquisição imprescindível para a discoteca. Um bom disco, com boas canções e ótimo preço.

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