domingo, 5 de abril de 2009

A Evolução dos Trajes de Carnaval

Maior festa pagã do mundo, o Carnaval já esteve nas mãos da Igreja Católica, que proibia os atos pecaminosos originais da comemoração. Porém voltou a ser uma festa popular em 1545, durante o Concílio de Trento, o mais longo da Igreja, que objetivava reagir à Reforma Protestante.



A sua origem vem da Grécia e da Roma antes de Cristo, que festejavam para agradecer as colheitas e a safra das uvas com as quais se faziam o vinho. Baco – deus romano do prazer, da folia e do vinho – e Dionísio – seu equivalente grego – eram homenageados com grandes festas que incorporavam liberdade sexual plena, fartura de comida e bebida, ficando conhecidas como bacanais, palavra derivada de Baco. Desde aquela época já se usava máscaras acreditando poder personificar o deus homenageado. Às vezes, só se usava máscaras, sem nenhum outro tipo de vestimenta ou quase nada. Sua origem também passa pelas Saturnálias dos césares romanos.

Tendo raízes hebraicas, mas principalmente com o advento do Cristianismo, o período conhecido como Quaresma representa 40 dias de provação e jejum. Para o povo hebraico, tem a sua origem quando Moisés atravessou o deserto com seu povo fugindo do Egito governado pelo faraó Ramsés II. Para os cristãos, fala-se da peregrinação de Jesus Cristo pelo deserto por 40 dias e ao período que antecede à Semana Santa (quando Cristo foi crucificado), finalizando com o domingo de Páscoa.

Já que, tradicional e religiosamente, na Quaresma não se come carne, na terça-feira que é véspera desse período, comemorava-se a Terça Gorda ou Mardi Gras. Até hoje nos Estados Unidos, o Carnaval é conhecido por Mardi Gras e o mais tradicional é o de Nova Orleans. Nessa terça-feira antes da Quaresma, comer carne vale. Daí a origem do nome da grande festa pagã. Junte a Terça Gorda ao Bacanal e teremos o Carnaval, uma festa nem um pouquinho inocente.


Mas as máscaras não ficaram somente na personificação e homenagem a Dionísio e Baco. Sendo uma festa da carne, o carnaval tem conotações alimentares e sexuais com a carne também no sentido de corpo, assim como nos Bacanais. Na Idade Média, um dos Carnavais mais freqüentados era o de Veneza. Justamente buscando a liberdade total sem julgamentos sociais ou religiosos, homens e mulheres escondiam seus rostos atrás de máscaras para praticar atos libidinosos. Algo impensável de se fazer com o rosto nu em uma época de ascensão e poder da Igreja Católica. A partir daí, as máscaras evoluíram para fantasias e passaram a incorporar a cultura festiva do Carnaval.

No Brasil, o Carnaval chegou em meados do século XVII e logo, o povo bra-sileiro contribuiu para a mistura da festa. Novos elementos surgiram, assim como fantasias. As mais famosas são de inspiração do teatro italiano “commedia dell'arte”: Arlequim, Pierrot e Colombina. Por volta de 1930, o que havia se tornado uma tradição no Carnaval foi declinando. As matérias-primas foram encarecendo e ficando escassas no mercado.

Com o passar do tempo, o Carnaval mudou, e com ele mudou a cultura do uso das fantasias. No Rio de Janeiro do início do século XX, havia blocos com foliões fantasiados, carros alegóricos particulares, onde seus proprietários tinham o prazer de enfeitá-los para os desfiles de rua. Todos participavam. Porém, a festa foi se profissionalizando. Surgiram Escolas de Samba que passaram a competir entre si. Patrocinadores e investidores começaram a ver o Carnaval como um grande comércio. Dessa forma, as fantasias saíram das ruas para as passarelas do samba de cidades como o próprio Rio de Janeiro e São Paulo.



A dinâmica passou a ser a seguinte: as Escolas de Samba escolhem cada uma o tema de seu desfile e, a partir daí, o carnavalesco – pessoa responsável pela parte artística da escola – desenvolve as fantasias de cada ala e cada carro alegórico. A massa popular assiste, dança, mas não se fantasia. Em muitos casos, as fantasias nos remetem às Saturnálias ou aos Bacanais: quase nenhuma roupa.

No nordeste brasileiro, os blocos de rua seguiram o caminho inverso: ganharam mais força e se firmaram no Carnaval, tornando-se tradicionais na cultura brasileira. Na Bahia, outro traje surgiu desses blocos: a Mortalha. Comumente usada por anos nos blocos de rua, separava, através de seus modelos e cores, os participantes de um bloco do outro. Mais recentemente, a Mortalha foi substituída por uma roupa mais leve e colorida, o Abadá.

Festeiro como o povo brasileiro é, o Carnaval deixou de ser simplesmente a Terça Gorda para ser o período compreendido entre o sábado que a antecede até a própria terça. Em alguns lugares, a festa começa antes e termina depois. E vale lembrar os Carnavais fora de época, conhecidos como Micaretas, onde para entrar é obrigado o uso do Abadá exclusivo do evento. No entanto, permite-se a “customização” do traje, ou seja, deixá-lo com toques pessoais do dono.



O Frevo de Pernambuco também utiliza trajes tradicionais, bem como acessórios, como o pequeno guarda-chuva colorido usado para malabarismos e manobras típicas dessa dança derivada do samba. Podemos também citar os Bonecos de Olinda, pois são alegorias carnavalescas, e tantas outras.

Ícone do Carnaval brasileiro, o museólogo e carnavalesco Clóvis Bornay, nascido em 10 de janeiro de 1916, inspirou-se nos bailes de máscaras em Veneza e convenceu o diretor do Teatro Municipal do Rio de Janeiro a instituir, a partir de 1937, Bailes de Gala, com concursos de fantasias de luxo, ele próprio vencendo algumas edições. Mais importante do que vencer, foi apresentar novos elementos a cultura carnavalesca brasileira. Bornay morreu em 9 de outubro de 2005.

O Carnaval é, sem dúvida, a maior festa popular brasileira. A evolução pela qual passou desde a Antiguidade, mostra seu dinamismo e sua força. Os trajes se adaptaram a cada época e a cada lugar, uns mantendo tradições, outros criando inovações. O que é inegável é o valor histórico e cultural do Carnaval para as diversas sociedades da qual faz parte, mas em especial, para o povo brasileiro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito interessante essa postagem.Parabéns!