terça-feira, 28 de outubro de 2008

A arte da luta e a luta da arte

Quem afirma que luta é arte, talvez não imagine que lutar pela arte seja duplamente artístico; há de ser artista por ela própria, e artista para vencer as barreiras que se impõem por todo o caminho para expô-la, seja literatura, dança, interpretação, plásticas e tantas outras formas e nuances artísticas.

Saliento a luta pela arte, pois há muito já sonhávamos (nós, frutalenses amantes das artes) em ver pronta a Casa da Cultura de Frutal, e lutávamos sim, pela divulgação, pelo apoio, pela inserção artística nas veias de nossa gente.

Muito já se falou da inauguração da Casa da Cultura no antigo Paço Municipal, mas eu não poderia, apesar de correr seríssimo risco de estar sendo redundante, de expressar meu contentamento e contar minha experiência vivida. E não poderia deixar de relatar toda a luta de uma geração.

Era lançada em maio de 1991 a primeira de seis edições do Jornal Pró-Cultural Alternativa, na verdade um tablóide sem fins lucrativos, que nascia da continuação de uma coluna escrita por mim, com o mesmo nome “Alternativa” em outro jornal pró-cultural: o Engenho e Arte. Era início de um tempo que prometia muito, pois o fim de anos de repressões acabara na década anterior, a de 80, e toda a movimentação artística que fôra degolada no regime militar abundou após a ditadura, trazendo à tona Cazuza, Russo e cia. Ltda. Almejávamos viver tudo o que a geração anterior à nossa não pôde. Lutávamos para difundir a arte e a cultura, talvez até por medo de que a geração anos 90 se alienasse e não desse o real valor a toda àquela liberdade de expressão que fôra conquistada a duras penas por outros antes de nós.

Na ânsia de ver nossos sonhos e metas se realizarem, alguns de nós até se excederam, como em reuniões da Câmara dos Vereadores, ainda na antiga Prefeitura, atacando o Legislativo e o Executivo na Tribuna Livre, por não criarem a Casa da Cultura de acordo com a nossa pressa e de acordo com a real necessidade da cidade. Pressa faz parte da juventude!

Mas a verdade é que tanto o Engenho e Arte quanto o Alternativa vieram para cobrar sim, mas também para inspirar, chacoalhar, movimentar a juventude frutalense. João Cerino, Rogério Basso, Ionei José e Kelly Cristina foram meus companheiros nessa luta pelas edições do Alternativa que, apesar de vida curta, rendeu bons frutos, como a criação do grupo Contato que promoveu uma exposição de artes no salão paroquial da Igreja Matriz com a participação de diversos artistas. Hoje, temos um espaço adequado para exposições fixas e temáticas que poderão vir a acontecer com uma boa administração do local.

Fica aí o meu registro, com uma certa dose de inveja de quem já visitou e conheceu a Casa da Cultura e com satisfação de saber que a nossa luta não foi em vão; que apesar da demora, um projeto que começou na gestão do ex-prefeito Toninho Heitor que também sonhava com isso, finalmente terminou na gestão da prefeita Ciça, com a secretária Zulmira. E vida longa a arte e cultura frutalenses!

Ronaldo Pedroso

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