quinta-feira, 12 de abril de 2018

Prometeu, tá prometido... Mas não cumprido.




Ano novo, vida nova, certo? Não é bem assim... Aquelas velhas promessas de Reveillon quase nunca são cumpridas. A primeira e mais tradicional é a famosa perda de peso. Vamos pensar na galera que se preocupa mais com o bom e velho churrasco e aquela breja geladíssima. Me expliquem uma coisa: se quem nasceu para ser leão nunca vai virar vaca, como uma pessoa que vive atolada no x-tudo power mega turbo combo com maionese temperada escorrendo pelas beiradas de repente se torna vegano, perde peso e passa a ter vida natureba, de bicho-grilo? E aquela picanha na chapa com dois dedos de gordura na lateral vai, inexplicavelmente, virar alface, tomate e cenoura? Não mesmo. Essa será a primeira promessa que você vai quebrar em 2018. Ademais, parafraseando o personagem Hondo Harrelson, interpretado pelo ator Samuel L. Jackson no filme Swat, de 2003: “não dá para confiar em uma pessoa que dispensa um bom cachorro quente”. E como dizia a minha mãe: “não é obesidade, é excesso de gostosura”. Se for por esse critério, realmente sou delicioso!

Vamos à segunda promessa: arrumar um namorado ou namorada! Vale para meninos e meninas... Coleguinha, tsc tsc...Você não frequentou academia o ano todo, não estudou nada além de anatomia humana com o (a) peguete de sempre que não quer nada a sério com você, não aprendeu trapézio, malabarismo, pole dance, não tem carro do ano e só anda de busão lotado pois não sobra grana nem pra Uber nem pra táxi, não curte pompoarismo nem praia de nudismo, enche o latão todo o fim de semana e desce até o chão, chão, chão, chão-chã-chão passando vergonha nos amigos, (o próximo eu vou falar baixinho pra ninguém nos ouvir: “não tratou aquela herpes lá naquele lugar, psiu”), tem pé rachado e mora longe. Pois é, não é dessa vez que você vai para Caldas Novas acompanhado (a) de um príncipe (princesa) e causar dor de cotovelo na galera invejosa. O mais certo é você se afogar em um pote de sorvete no sábado à noite com aquela roupinha de dormir chinfrim de promoção de feira, ou aquele short surrado e rasgado, assistindo pela décima quinta vez o Diário de Bridget Jones ou American Pie.

E a promessa de sair do vermelho? Aquela conta na Crefisa não será quitada milagrosamente, minha gente... Você não pensou nisso quando quis comprar aquele sonzão pro seu Chevette rebaixado, né amigão? E você, dona Maria, a chapinha que você dividiu em dez vezes no carnê nas Lojas Cem (não, não recebi jabá para citar a loja) pensando: “mês que vem eu pago”... O mês que vem chegou e necas de tirar o carnê da gaveta. A verdade é que não sobra nada do seu pagamento no mês, o que está sobrando é muito mês para o seu pagamento. Você que guarda papel de presente embaixo do colchão para chamar mais presente, sempre deixa uma moeda de um real na carteira junto com aquela medalhinha de Nossa Senhora da Aparecida para chamar mais dinheiro, põe o espelho de frente para a porta da porta da sala, usa chaveiro de pé de coelho e trevo de quatro folhas, deixa eu te contar um segredo: não adiantar queimar incenso para o mau olhado na mesma velocidade que você queima dinheiro.

Agora, piores do que essas três promessas anteriores, são aquelas que você vai ouvir durante todo o ano, pelo menos até as eleições de outubro. Vai rolar de tudo, pode ter certeza: “prometo ser honesto”, “prometo construir a escola”, “prometo investir na saúde”, “prometo valorizar o trabalhador” e a inédita “prometo sair da cadeia”.

E para finalizar, também tenho uma promessa. Uma coletiva, pode ser? “Prometo perder 10 quilos ou mais, levar uma vida mais saudável, parar de fumar, prometo arrumar uma namorada (complicou, pois sou casado), prometo votar em candidato honesto (complicou de novo) e prometo te pagar dona Deroci. Mas lembre-se que tenho muito apreço pela senhora e gostaria de continuar contando com a sua confiança. A senhora sabe que sou de família honesta e preciso pegar mais umas coisinhas – pouca coisa mesmo – para anotar na sua caderneta. Pode confiar que vou pagar!

Foto: https://www.einstein.br/noticias/noticia/planejando-metas-promessas-para-2018

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Análise semiótica do filme Laranja Mecânica

Laranja Mecânica (A Clockwork Orange) é uma produção de 1971 de Stanley Kubrick, que adaptou a obra homônima de Anthony Burgess, escrita em 1962. É considerado o primeiro filme punk rock já produzido. O enredo se passa na Inglaterra em uma época futurista e emprega a semiótica e a psicologia para desenvolver as ações e reações do protagonista Alex DeLarge, interpretado por Malcolm McDowell. DeLarge é um sociopata amante da música clássica e do que é chamado no filme de ultraviolência. Ele narra a própria história utili-zando gírias derivadas de outros idiomas, em que aterroriza a sociedade com vandalismo, brigas com outras gangues, estupro e outros crimes.

Em certo momento, Alex é preso e, através de um programa de condicionamento, volta às ruas modificado. Quando pensa ou tenta algum ato violento, o seu organismo reage com crises de pânico, vômito, tontura. Esse condicionamento foi realizado através de sugestões visuais, onde ele assistia a cenas de violência com os olhos mantidos abertos à força e a aplicação de drogas, que o debilitavam. No filme, o controle do comportamento social é feito através de uma técnica chamada Ludovico que, com princípios psicológicos behavioristas de condicionamento, introduz em Alex o mal-estar físico ligado a qualquer comportamento violento.

Esse condicionamento, além da própria psicologia, tem explicações se-mióticas. Essa ciência foi iniciada pelo filósofo e linguista suíço Ferdinand de Saussure, a partir de seus estudos sobre a linguística. De acordo com ele, a linguística seria apenas uma parte da semiótica, até então não considerada ciência. Charles SandersPeirce, cientista, lógico, filósofo e matemático norte-americano, também estudou a semiótica como o estudo dos signos.

Neste contexto, as ações e reações do personagem de Laranja Mecâni-ca são um emaranhado de significados incutidos em sua psique. Alex vincula o seu sofrimento físico a atos de violência introduzidos através de vídeos que ele assistiu exaustivamente. Esse tipo de condicionamento relaciona um efeito (seu mal-estar) a uma causa (violência) e seu comportamento é moldado de acordo com os propósitos de terceiros. Do ponto de vista da semiótica, uma cena de violência presenciada pelo pós-condicionado DeLarge, significa sofri-mento, resultando em reações físicas incontroláveis, como dores e náuseas.

Em um dos trechos do filme, Alex cruza com um homem que ficou para-lítico e teve a esposa estuprada e morta ao serem agredidos por ele. O homem o reconhece somente quando ele está na banheira e canta Singin' in theRain, a mesma música que DeLarge cantou quando o estava agredindo. Para o cadeirante, a música tem um significado muito particular, de acordo com sua experiência de vida; neste caso, relacionada a uma violência sofrida. É como Saussure define a semiótica: “a ciência que estuda o signo dentro do contexto social no qual está inserido”. Para ele, “signo é a união de significante e significado. É qualquer coisa que signifique alguma coisa para alguém. Em princípio tudo é signo. Entidade que pode tornar-se sensível para um grupo determinado de pessoas que o utilizam” (TEMER, NERY, 2009).  Para Alex, a música também tem significado oposto em situações diferentes: seu compositor favorito, Ludwig van Beethoven, é fonte de prazer aliada à violência, mas depois do condicionamento psicológico, passa a significar seu próprio mal-estar.

Depois de passar por todos os percalços, o protagonista volta ao seu es-tado original através de uma cirurgia no cérebro e visões que considera maravilhosas, marcadas pela ultraviolência. Neste estado psicológico, a violência significa prazer; durante o condicionamento, a menor referência a violência significava sofrimento. A semiótica explica a mudança dos significados a partir das experiências pessoais. O mesmo signo pode ter significados diferentes, dependendo das vivências de cada um. Na história futurista, existem dois DeLarge, o que implica em dois significados diferentes para o mesmo signo, a violência. O primeiro significado de violência, para o sociopata, é um deleite, um prazer incomensurável; o segundo, para o Alex reabilitado, a violência significa sofrimento pessoal, não somente para as vítimas. A semiótica, portanto, explica a relação de Alex com diversos signos em fases distintas do filme.

Referências

COELHO, José Teixeira: Semiótica, informação e comunicação. 3 ed. São Paulo: Perspectiva, 1990.

NÖTH, W.: Panorama da Semiótica: de Platão a Peirce. São Paulo: Annablu-me, 1995.

QUEIROZ, A. J. M.: Sobre as 10 Classes de Signos de C.S.Peirce. Tese de Mestrado, inédita. PUC, 1997.

SANTAELLA, L.: A teoria geral dos signos: Como as linguagens significam as coisas. 2 ed. São Paulo: Pioneira, 2000.

TEMER, A. C. R. P.; NERY, V.C.A.: Para entender as teorias da comunicação. 2.ed. Uberlândia: EDUFU, 2009. 206 p.

A Guerra do Fogo

Dirigido por Jean-Jacques Annaud, a Guerra do Fogo (La Guerre du Feu, 1981) é uma co-produção da França e do Canadá, tendo como enredo a disputa entre dois grupos de hominídeos pelo domínio do fogo na pré-história. Na história, o fogo já é conhecido e manuseado pelos personagens, porém eles não possuem a capacidade de gerá-lo, tendo de manter a chama viva todo o tempo.

Neste contexto, o fogo se torna um objeto de luxo, transportado com todo o cuidado para não apagar, tendo sempre alguém para mantê-lo aceso. O fogo representa poder; quem o possui, tem a supremacia sobre outros animais e outras tribos. Na trama, um grupo rival ataca e rouba o fogo dos protagonista, que partem em busca dos inimigos para reaver essa fonte de poder.

Annaud foi arrojado ao excluir a linguagem verbal no filme, utilizando apenas gestos e grunhidos nos personagens. Mesmo assim, é possível perceber as nuances da comunicação entre os envolvidos. Quando existe algum tipo de ameaça, os personagens gritam e rosnam, bem como utilizam de pedaços de pau que batem ferozmente no chão, com o intuito de intimidar seus opositores. Este gesto tem o significado de ameaça ao receptor. Outro ponto a ser salientado é o tamanho da arma empunhada; quanto maior, mais poder.

Apurando um pouco mais a fundo a linguagem utilizada na produção, a trilha sonora é fundamental pois, em muitos momentos, dá o tom da história, alternando suspense, ação ou drama. Essa é, inclusive, uma das formas de ressaltar os sentimentos que o diretor procura expressar entre os personagens. Eles são seres extremamente rudes e pouco desenvolvidos do ponto de vista emocional, tendo a ira como a sua maior representação. Um bom exemplo é a cena descrita a seguir.

Em determinado momento, uma pedra cai na cabeça de um dos protagonistas, levando uma mulher, que pertence a uma tribo mais desenvolvida, às gargalhadas. Os outros, pertencentes a um grupo mais primitivo, parecem desconhecer o riso. Essa manifestação será desenvolvida por eles ao longo da produção, assim como várias outras formas de expressão. Esta mulher será a ponte entre o passado e o futuro. Ela os ensinará a produzir fogo e a expressar sentimentos, coisa impensada até então, e formará, inclusive, par romântico com o personagem principal.

Análise semiótica do quadro “Amor Materno”


A Semiótica é utilizada em diversas formas de comunicação, verbal ou não verbal. Seja em um filme, uma música, uma conversa ou mesmo em uma pintura. Esse é o caso do quadro “Amor Materno”, quem compõe a exposição “Sentidos”, com telas e gravuras da artista plástica Fernanda Silva. O acervo ficou disponível para visitação nos dias 15 e 16 de maio na unidade do Guará das Faculdades Icesp Promove.

Segundo a artista, a Semiótica foi empregada na produção da tela.Carregado de significados, o quadro compõe o seu humor momentâneo , em que as cores fechadas do topo da pintura indicam um estado de espírito introspectivo, pesado. Durante conversa com uma amiga, que relatava um acontecimento pessoal, seu estado foi se modificando, tornando-se mais calmo, o que refletiu na parte inferior da tela que terminou com o rodapé em branco, representando sua paz de espírito ao término da conversa e da pintura.

“Eu estava em um bate-papo com uma amiga e comecei a pintar. Enquanto estávamos conversando fui colocando um azul, preto, verde, vermelho e esse branco no final, foi proposital”, explica Fernanda. Com significados distintos em uma mesma obra, é possível analisar a mudança de humor acompanhada pela diferença das cores e dos tons. A parte de cima, mais soturna, indica a angústia da artista. Esse sentimento foi se modificando, como pode ser percebido pela utilização de cores mais clara e vivas na metade inferior do quadro.Outro signo empregado na obra são as três flores no centro da pintura, que simbolizam os filhos da amiga. “Ela tem três filhos e eu fiz as três flores que os representam, o amor materno”. Para se fazer a análise semiótica do pintura, há de se atentar para três fases ou aspectos distintos.


Em princípio, percebe-se o traço simples, mas o destaque é para a composição de cores, que salta aos olhos. Neste momento, o objeto é caracterizado como ícone, já que as tonalidades passam frieza, tristeza, mesmo à primeira vista.Aprofundando-se um pouco mais, podemos distinguir o uso de tons mais claros no final, além destacar as flores que são, neste momento, apenas representação da planta propriamente dita, apesar de sua cor vermelha já indicar ou sugerir o sentimento de amor, bem como o formato insinuar um coração.Então, o quadro pode ser caracterizado como índice. Por último, é feita uma análise levando em consideração a convenção social e a vivência pessoal da artista, para confirmar os indícios da etapa anterior e afirmá-los como representações de sentimentos.Nesta última análise, o objeto passar a se caracterizar um símbolo. No caso específico, o amor da mãe pelos três filhos. O nome do quadro surgiu dessa relação entre mãe e filhos, captadas pela sensibilidade da artista.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Invasão samurai: Japoneses invadem o Brasil

Brasileiros se rendem à cultura da maior colônia japonesa fora do país do Sol Nascente


No ano de 2013 comemora-se 105 anos da imigração japonesa no Brasil. Mas durante todo este período não se viu tamanha disseminação da cultura japonesa como se percebe atualmente. Segundo estudiosos como o filósofo canadense Herbert Marshall McLuhan, a globalização criou comunidades multiétnicas, internacionais e multiculturais. Dentro deste ponto de vista, a TV e a internet são ferramentas poderosíssimas para a liquidificação cultural. Mas o fato de o Brasil possuir a maior colônia japonesa fora do Japão em todo o planeta impulsiona a aculturação, fenômeno que filósofos, antropólogos e sociólogos descrevem quando uma cultura começa a “engolir” outra.

Considerada pela colônia japonesa como data oficial do início da imigração, o dia 18 de junho de 1908 marcou o desembarque de 165 famílias nipônicas no porto de Santos, vindas no navio Kasato Maru. Em dez anos, a colônia japonesa atingiu o expressivo número de 14 mil pessoas. Entre 1917 e 1940, esse número subiu para 164 mil. De acordo com dados do dados do censo de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), hoje já são mais de 2 milhão de nipônicos no Brasil entre isseis (aqueles nascidos no Japão) e descendentes, o que torna o Brasil o país que mais abriga japoneses fora do Japão no mundo (veja quadro abaixo). Um aumento de 173,7% no período de dez anos, já que no censo de 2000, 761 mil pessoas se declararam amarelas.

A maioria da população que se declarou amarela no último Censo é moradora no estado de São Paulo, apesar de haver representatividade em todo o território nacional. Destaque para outros estados brasileiros que mantém grandes concentrações de japoneses, como Paraná, Mato Grosso do Sul e Pará. Neste contexto, como bons mineiros que trabalham em silêncio (ou deveria dizer como as gueixas, que urdem igualmente mudas), a cultura japonesa vem se estabelecendo em terras brasucas paulatinamente, sem provocar o mesmo choque sofrido pelos imigrantes que pisaram em Santos há 105 anos.



História e tradição

A grande maioria dos imigrantes que viajou no Kasato Maru era composta por camponeses, homens, mulheres e crianças egressas das zonas rurais do Japão, que passava por uma forte crise, com desemprego em alta, o que obrigou a milhares de japoneses a procurar novos horizontes. Como o Brasil necessitava de mão-de-obra para o cultivo do café os governos dos dois países firmaram acordo facilitando a entrada de imigrantes oriundos do país do sol nascente em terras tupiniquins.O Kasato Maru foi só o primeiro de muitos.

Exatamente como aconteceu com os avós da funcionária pública Silvia Nawa, 35 anos, morada em Brasília há um ano e meio. Segundo a sansei (nome dado aos netos de imigrantes), tanto seus avós paternos quanto maternos eram crianças ou adolescentes quando chegaram ao Brasil, depois de três longos meses de viagem. “A viagem aconteceu em condições extremamente precárias. Apesar de terem vindo separados, todos eram muito pobres e passaram por situações semelhantes”, conta Sílvia. A maioria dos navios que transportavam os imigrantes não oferecia condições dignas para os passageiros. Drama vivido por milhares de pessoas.

Após a Primeira Guerra Mundial, milhares de pessoas vindas do Japão arriscaram uma mudança radical de vida procurando novos horizontes em um país tropical. A maioria desembarcou no Brasil, principal alvo dos imigrantes que procuravam se estabelecer nas Américas. Mas com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, Brasil e Japão se viram em lados opostos do conflito, o que fez emergir uma gigantesca xenofobia que, até então, permanecia enraizada no coletivo brasileiro. Entre as medidas tomadas pelo governo brasileiro, a proibição da difusão da cultura nipônica foi a mais contundente. Escolas japonesas foram fechadas, o uso da língua foi vetado, bem como manifestações culturais. O assunto foi abordado pelo jornalista Fernando Moraes no livro Corações Sujos, lançado em 2000, e que virou filme em 2011.

Entretanto a cultura japonesa sobreviveu no Brasil até os dias de hoje, como é o caso da família de Sílvia. “Nossa educação tem muita influência, como o respeito aos mais velhos. Também comemos muita comida japonesa, falamos algumas coisas em japonês, o ano novo tem um significado especial e comemos bolinho de arroz no dia 1º de janeiro para trazer fartura”, detalha.

Mãos à obra

A aversão que boa parte dos brasileiros nutria pelos japoneses era baseada em preconceito, mas justificada pela inimizade entre as nações durante a guerra e também por questões econômicas, já que os imigrantes literalmente “suavam a camisa” e cresciam do ponto de vista financeiro e social, muitos deles lutando arduamente para manter viva a tradição natal.

Sílvia conta que, como inúmeros outros isseis, seus avós buscaram a ascensão social na agricultura no interior de São Paulo. “A família da minha mãe foi para Ibiúna e do meu pai para Pereira Barreto. Lá, meus avós se conheceram e formaram suas famílias”, explica. E seguindo os passos da família, os pais da funcionária pública não se acomodaram e foram tentar a vida na capital paulista. “Meu pais se conheceram na capital [São Paulo], onde foram trabalhar e estudar. Sofreram bastante, passaram necessidade. Depois de muita luta, cresceram, se formaram e tiveram muito sucesso profissional. Hoje, são aposentados e têm uma vida bastante confortável, merecidamente!”, comemora.

Apesar de todas as adversidades, o silencioso e humilde trabalho nipônico conquistou a simpatia do povo brasileiro e fez resistir a cultura japonesa até os dias de hoje, quando eclodiu como moda entre os adolescentes.

Banzai

Impulsionada por enlatados consumidos aos barbatões desde a década de 80 (para ilustrar podemos citar Jiraia, Jaspion, Ultraman e o monstrengo ora do bem ora do mal Godzilla), a cultura japonesa vem se firmando como inesgotável fonte de entretenimento entre a garotada brasileira. Tanto que são cada vez mais numerosos eventos como feiras e congressos com essa temática. Um exemplo dessas investidas em explorar esse nicho mercadológico é a Fukkatsu DF, que teve a segunda edição realizada no dia 18 de agosto no Centro de Ensino Fundamental (CASEB). Autoproclamada evento beneficente, cobrava entradas que variavam entre R$ 10 e R$ 15 mais um quilo de alimento não perecível a ser distribuído para instituições filantrópicas.

Segundo Carolina Vieria, que participa da organização do evento, os mais de 3 mil participantes da segunda edição superou o público da estreia, ocorrida em março. “Está muito bom, o público está gostando, o evento está grande e está crescendo”, ressaltou a organizadora que destacou ainda o início do trabalho. “Ele [o evento] começou com um projeto antigo, passamos quase um ano planejando. A gente estava com um projeto diferente de eventos em Brasília”. Robson Passarela participou pela primeira da comissão organizadora e destacou o caráter de integração da feira. “A Fukkatsu surgiu com intuito de trazer de volta os eventos antigos que tinha em Brasília, todo aquele clima de amizade”, destacou.

Comércio intenso

Para chamar a atenção da petizada e aguçar os instintos consumidores, dezenas de atrações foram disponibilizadas pelos organizadores da Fukkatsu. Participações especiais como Elcio Sodré, dublador e de Hermes Baroli, dubladores profissionais de desenhos e animes, se misturaram a espaços reservados a jogos de videogames e RPG, exibição de animes (desenhos animados japoneses), batalha campal, , amostra de artes marciais, apresentações de dança e teatro, shows musicais e ainda desfiles cosplay (fantasias de personagens das revistas, TV e games). Aliás, pelos transitando pelos corredores se via desde participantes (adultos, adolescente e crianças) caracterizados com fantasias que iam do ridículo ao fantástico, até o mais surrado e simples conjunto de jeans e tênis dos menos afoitos.

Apesar da pouca idade, a estudante Caroline Meier é veterana em concursos cosplay. A adolescente fantasiada de Kikyou, personagem do anime  Inu Yasha, já participou de mais de dez eventos, incluindo outros concursos de cosplay. Mas chegou tarde para o concurso da Fukkatsu e não pode participar. “Eu cheguei um pouquinho atrasada para o concurso de cosplay e não consegui me inscrever e estou muito triste por causa disso”. Ela tem ressalvas em relação a organização. “Esses eventos hoje em dia estão muito bagunçados, não estou gostando muito não”, desabafa.

Para quem não tinha fantasia em casa, bastava procurar nos estandes montando na feira. Feira, aliás, poderia ser a correta descrição do espaço reservado para o intenso comércio desenvolvido no local. Além de roupas alusivas a personagens ou mesmo figurinos mais completos tinha acessórios, enfeites e decoração, artigos de cama e banho, praça de alimentação, entre outros ramos das vendas. Henrique Alves, gerente de uma livraria de sebos, montou um estande no evento que oferecia para os visitantes camisetas temáticas, livros, revistas e mangás, que dividiam espaço com outros gibis, que iam da Turma da Mônica até os badalados X-Men. Henrique participou da primeira edição e de muitas outras no mesmo segmento. Para ele, é o tipo de negócio que compensa. “Esse público jovem busca muito mangá. E como Brasília não tem uma livraria ou uma banca que ofereça esses produtos, a gente está investindo nisso”. Na avaliação do gerente, a expectativa de retorno era maior, o que não quer dizer que houve prejuízo. “O outro [evento] estava maior, mais movimentado, mas está legal”, avalia.

Japonês candango

A comunidade japonesa Nippo Brasília estima que no Distrito Federal existam 8 mil japoneses ou descentes. nikkeis). Organizada em uma federação, a Nippo usa a internet para congregar outras entidades alusivas à cultura japonesa e divulgar o modo de vida nipônico. O site da comunidade oferece informações sobre história, tradições, culinária, informações sobre intercâmbio com o Japão. Longe de ser um veículo oficial, é mais um dos inúmeros pontos de referência na web para quem saber mais sobre o país das cerejeiras. O endereço do site é http://www.nippobrasilia.com.br/.

Fotos: Divulgação evento
Gráfico: fonte IBGE